quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Após 3 anos, acusado de matar Eloá vai a julgamento

Créditos: Reprodução/ TV GloboComeçou por volta 10h50 desta segunda-feira  no Fórum de Santo André, no ABC paulista, o julgamento de Lindemberg Alves Fernandes, acusado de matar a ex-namorada Eloá Cristina Pimentel em 2008.

O júri iniciado pela juíza Milena Dias ocorre mais de três anos após um dos sequestros mais longos do país - cerca de 100 horas - acompanhado ao vivo pela TV, que terminou com a morte da estudante, com 15 anos à época.

Seis homens e uma mulher compõem o júri que irá definir se Lindemberg é culpado ou inocente. O réu chegou algemado, mas ficou definido que ele não usará algemas durante o julgamento.

Mãe 
Bastante aplaudida a saudada pelo público com gritos de “Justiça”, Ana Cristina Pimentel, a mãe da garota Eloá Pimentel, chegou ao Fórum de Santo André, no ABC, por volta das 9h30 desta segunda-feira. Emocionada, ela falou com a imprensa. Disse não ter ódio de Lindemberg Alves, acusado de matar a filha em 2008. “Não tenho ódio e nem raiva [de Lindemberg Alves]. Mas não o perdoo”, afirmou.

Ana Cristina disse que busca por justiça no julgamento que começa nesta segunda e deve demorar cerca de três dias. Ela afirmou que os dias que antecederam o julgamento foram difíceis. Ela afirmou que não tem comido direito e está bastante nervosa e emocionada.

O advogado José Beraldo, assistente de acusação, disse que o atraso no início do julgamento se deve a uma divergência entre Ministério Público e a defesa do réu. Segundo ele, algumas testemunhas ainda não chegaram ao júri – elas não moram na comarca de Santo André e não têm obrigação de comparecer. A advogada de Lindemberg sugeriu então que a mãe de Eloá substituísse uma delas – entretanto, Ana Cristina está muito abalada e o Ministério Público não concordou com a substituição.
Créditos: Folhapress
A mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, chega ao fórum de Santo André para o primeiro dia de julgamento de Lindemberg Alves Fernandes

A advogada Ana Lúcia Assad, que defende Lindemberg Alves, acusado de matar a ex-namorada Eloá Pimentel em 2008, disse nesta segunda-feira ao chegar ao Fórum de Santo André, no ABC, para o julgamento de seu cliente que ele é “um bom rapaz”, Ana Lúcia não quis comentar estratégias de sua defesa. O julgamento está previsto para começar às 9h deve durar três dias.
Ingênuo
“Ele é um bom rapaz, é ingênuo”, disse a advogada, que pretende passar trechos do filme “Sem vestígios” para os jurados – segundo ela, o filme tem uma mensagem que poderá sensibilizá-los. A advogada também afirmou que não foram encontrados vestígios de pólvora nas mãos de Lindemberg nem na dos policiais.

Lindemberg chegou por volta das 8h10 desta segunda-feira ao Fórum de Santo André. Ele saiu pouco antes das 6h30 da Penitenciária II de Tremembé, no interior de São Paulo. A advogada de Lindemberg também disse que seu cliente falará pela primeira vez sobre o caso no julgamento. O acusado se manteve em silêncio em todas as vezes que foi chamado a prestar depoimento. No julgamento, ele também poderia ficar calado.

Deixou o presídio
 

Lindemberg Alves Fernandes, que começa a ser julgado nesta segunda-feira, pelo assassinato da morte da ex-namorada, Eloá Cristina Pimentel, deixou, por volta das 6h20, o presídio de Tremembé 2, em direção ao Fórum de Santo André, no ABC, em São Paulo. O veículo em que ele está é escoltado por seis policiais que seguem em dois carros da Polícia Militar. 

Pouco antes das 7h, já havia pessoas em uma fila em frente ao fórum, aguardando por uma vaga para conseguir acompanhar o julgamento. Policiais militares faziam a segurança do local.
Créditos: Folhapress
Nayara Rodrigues, amiga de Eloá, chega ao fórum de Santo André

Além desse crime, o réu responde por duas tentativas de homicídio (contra Nayara Rodrigues da Silva, baleada no rosto, e o sargento da Polícia Militar Atos Antonio Valeriano, que escapou de um tiro); cárcere privado (de Eloá, Victor Lopes de Campos, Iago Vilera de Oliveira e duas vezes de Nayara) e disparo de arma de fogo (foram quatro) praticados entre os dias 13 e 17 de outubro de 2008 dentro do apartamento onde Eloá morava, no segundo andar de um bloco da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no Jardim Santo André.

No presídio, que fica a cerca de 140 km da capital, Lindemberg trabalha para uma fábrica que produz peças para boxes de banheiro. Ele participa de grupos de oração e costuma ler bastante. Na madrugada, algumas pessoas já aguardavam na frente ao Fórum para assistir ao julgamento. Cerca de 170 senhas serão distribuídas para o público.

Além desse crime, o réu responde por duas tentativas de homicídio (contra Nayara Rodrigues da Silva, baleada no rosto, e o sargento da Polícia Militar Atos Antonio

Valeriano, que escapou de um tiro); cárcere privado (de Eloá, Victor Lopes de Campos, Iago Vilera de Oliveira e duas vezes de Nayara) e disparo de arma de fogo (foram quatro) praticados entre os dias 13 e 17 de outubro de 2008 dentro do apartamento onde Eloá morava, no segundo andar de um bloco da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) no Jardim Santo André.

O julgamento de Lindemberg está marcado para iniciar às 9h e deve durar três dias, segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Ao todo, foram arroladas 19 testemunhas para prestarem depoimentos, que poderão ser gravados pela Justiça. Pela lei, as testemunhas que moram fora de Santo André não precisam comparecer. 

Mais de 180 pessoas deverão assistir ao júri na plateia, entre parentes do réu, familiares das vítimas, público interessado que adquiriu senhas, membros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), estudantes de direito, magistrados do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e jornalistas (serão cerca de 50 profissionais). A segurança em torno do fórum será reforçada pela PM para garantir a integridade física das pessoas que participarão do júri. Estão sendo aguardados eventuais protestos do lado de fora do prédio.

Depois será feito o interrogatório de Lindemberg, que está preso preventivamente na Penitenciária de Tremembé, no interior de SP, à espera do júri. Quando foi preso pela PM, ele nunca falou oficialmente sobre o desfecho do sequestro na delegacia, na reconstituição e na audiência de instrução na Justiça. Terá de comparecer agora ao fórum, mas tem o direito continuar em silêncio se quiser e não responder a nenhuma pergunta.

Sete jurados vão votar secretamente e decidir se o acusado é culpado ou inocente. Em seguida, a juíza Milena Dias, que presidirá o júri, contará os votos e dará a sentença de condenação ou absolvição do réu. Segundo o Ministério Público, responsável pela denúncia, se Lindemberg for condenado por todos os crimes atribuídos a ele, a pena mínima poderá ser de 50 anos e a máxima de 100 anos de reclusão. Pela legislação do país, no entanto, ninguém pode ficar preso a mais de 30 anos.

O caso

De acordo com a promotora Daniela Hashimoto, movido por ciúmes da Eloá porque a ex não queria mais reatar o romance de três anos, o então auxiliar de produção Lindemberg, então com 22 anos, invadiu armado o apartamento da estudante em Santo André disposto a matar por vingança no dia 13 de outubro de 2008. Lá, manteve Eloá e outros três colegas de escola dela como reféns.

Na versão da acusação, Lindemberg ainda atirou em direção ao sargento Atos Antonio Valeriano, o primeiro policial militar que tentou negociar a liberação dos reféns e rendição do sequestrador. Com a chegada do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da PM, que assumiu as conversas com o agressor, os alunos Victor Lopes de Campos e Iago Vilera de Oliveira foram libertados por ele.

Nayara Rodrigues da Silva, amiga de Eloá, também chegou a ser solta após negociação entre o Gate e Lindemberg em troca de religar o fornecimento de água e da energia elétrica do apartamento. 

Mas a adolescente, que estava com 15 anos na época, retornou ao imóvel dias depois por decisão da PM, que atendeu a exigência do sequestrador: ele havia combinado que só iria se entregar e libertar Eloá se Nayara fosse até a porta da residência para que eles saíssem todos juntos. Isso, no entanto, não ocorreu: Lindemberg ordenou que Eloá puxasse Nayara para dentro do apartamento e voltou a manter as amigas como reféns.

Entendendo que não havia mais avanço nas negociações para o fim do sequestro, o Gate decidiu invadir o apartamento no dia 17 de outubro de 2008. Na ação, policiais arrombaram a porta, mas demoraram para entrar porque ela estava bloqueada por um sofá. Além disso, usaram uma escada para tentar entrar por uma janela do segundo andar, mas a ferramenta não tinha alcance para isso.

Durante essa confusão, Lindemberg aproveitou para atirar em direção a cabeça de Eloá e de Nayara, segundo laudo da perícia do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico Científica. Eloá foi atingida por dois disparos e teve morte cerebral confirmada por um hospital onde estava internada no dia 18 de outubro. Alguns de seus órgãos foram doados. Nayara foi baleada no rosto, mas sobreviveu.

A PM, que usou balas de borracha na incursão, fez disparos, mas não atingiu Lindemberg, que depois foi dominado e preso. Em entrevistas na época, alguns oficiais chegaram a afirmar que a invasão do Gate ocorreu porque ele teria escutado um disparo dentro do apartamento que poderia ser do seqüestrador contra as reféns. 

A versão, no entanto, foi negada depois por outros policiais. Apesar disso, a ação da PM foi bastante criticada à época. Alguns especialistas em segurança afirmaram que qualquer invasão deve ser feita em último caso porque pode colocar a vida dos reféns em risco.

Testemunhas de acusação
Nayara será uma das cinco testemunhas arroladas pela acusação, quatro são vítimas de Lindemberg e outro é parente da vítima. Além da estudante, que atualmente está com 18 anos, prestarão depoimento os dois colegas dela que foram feitos reféns, o policial militar que escapou de um tiro e o irmão mais velho de Eloá, Ronickson Pimentel dos Santos, que era amigo do agressor. (confira a lista completa de testemunhas abaixo).

Para a promotora Daniela, o irmão de Eloá é peça-chave na construção do perfil do acusado por ter presenciado a sua agressividade. "Foram momentos antes da invasão da casa de Eloá e momentos durante a invasão, quando ele [Ronickson] tentava conversar por telefone com o réu", disse ela.

A tese com a qual a Promotoria deve trabalhar é a de que Lindemberg é um homem possessivo, violento e que invadiu o apartamento da ex-namorada decidido a matá-la. "Toda a história começou há 30 dias [da data do início do crime], quando ele já estava ameaçando [...]. Ia rondar a escola [em que Eloá estudava]. Há 15 dias [do crime ele] abordou Eloá, a agrediu fisicamente, sempre com essa intenção", disse a promotora.

Segundo o advogado José Beraldo, que defende os interesses da família de Eloá, e é assistente da acusação, Lindemberg mencionou várias vezes a intenção de matar as vítimas em gravações em áudio da negociação entre ele e os policiais enquanto mantinha os reféns em cativeiro.

As imagens com o som dessas conversas deverão ser mostradas aos jurados e a platéia, por meio de um telão, Além disso, também serão exibidas parte das mais de seis horas de gravações de programas jornalísticos sobre o caso. Em alguns deles, o sequestrador chegou a dar entrevista por telefone depois que repórteres e apresentadores ligaram para o apartamento onde ele estava com as vítimas, ocupando a única linha usada para a PM negociar com Lindemberg.
Créditos: Reprodução/TV Globo
Júri está marcado para iniciar às 9h e deve durar três dias
Jornal a Tribuna

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