
De olho na freguesia que tem dinheiro e paga quase sempre à vista, as empresas buscam parceiros para colocar os seus produtos nas prateleiras. São lojas multimarcas de roupas e acessórios eletrônicos, mercadinhos com produtos importados, salões de beleza recheados dos mais refinados produtos e cosméticos. É a nova classe média ávida por bens duráveis de qualidade.
A pesquisa Favelas brasileiras - Um mercado de R$ 56 bilhões do Data Popular/Data Favela comprova a mobilidade social das famílias impulsionada pela oferta de mais emprego, melhoria da renda e o aumento da escolaridade. A maioria dos moradores se situa na nova classe média, cuja renda familiar per capita varia de R$ 291 aR$ 1.019, segundo os critérios da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
O estudo revela que o consumo triplicou nos últimos dez anos (2002-2013) na periferia do país. “É a nova classe média que cresceu mais nas comunidades. Tem uma fatia maior no Sudeste, mas está presente em todas as regiões do país”, diz Renato Meirelles, diretor do Data Popular. A média de anos de estudo também aumentou: passou de quatro para seis anos. “É uma geração mais escolarizada, que tem a chance de consumir mais do que os pais. Eles querem bens de qualidade e estão sempre consumindo produtos”, arremata o diretor.
No novo mercado de consumo, os jovens despontam como o ator principal. Acesso ao computador e à internet, presença nas redes sociais, popularização da TV a cabo, celular de toque, tablets e smartphones. Além do consumo de marcas e visitas às lanchonetes fast food. “O morador da favela quer capitalizar isso nas marcas que ele usa. A aspiração não é se igualar, mas ser visto pelo asfalto”, comenta Meirelles.
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"Os jovens hoje têm celular e notebook. Mas eu quero fazer um curso universitário", diz Manoela Bárbara de Moraes |
“A gente sente que cresceu o consumo. Os jovens hoje têm celular, notebook com acesso à internet e televisão de tela plana em casa. Acho importante, mas tenho outros desejos. Quero fazer um curso universitário de jornalismo ou enfermagem”, planeja.
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Amizael Cícero da Silva vendia peixe de porta em porta. Ele sentiu o potencial de consumo local e abriu um mercadinho |
A comunidade de Casinhas-Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes, é o retrato do consumo emergente. Lá moram cerca de 12 mil potenciais consumidores. Basta caminhar um pouco pelas ruas para perceber a efervescência econômica da comunidade. Falta calçamento e em alguns trechos das ruas os esgotos aparecem a céu aberto. Mesmo sem infraestrutura urbana, a maioria das casas está em reforma ou foi ampliada.
Os armazéns de construção fazem a festa. As lojas de móveis e eletrodomésticos também comemoram o dinheiro em movimento. “Todas as empresas têm interesse nesse novo público que começou a consumir nos últimos cinco anos”, comenta Celso Cronenbold, coordenador da Central Única das Favelas (Cufa) em Pernambuco.
A família de Danilis Oliveira, 19 anos, pegou o embalo e começou a reforma da casa em julho do ano passado. O aumento da renda dos pais - a mãe é empregada doméstica e o pai é vigilante - contribuiu para a mexida na casa. Danilis ganhou a etapa estadual do concurso de modelo Top Cufa. “Viajei pela primeira vez para o Rio de Janeiro de avião. Conheci novas pessoas e tenho possibilidades de ser contratada por uma agência de São Paulo. Depois, quem sabe, vou para o exterior.”
"O bairro se desenvolveu, tem mais emprego e renda", garantem Edilton Santana e Maria José da Silva, que mora na comunidade há 31 anos |
A casa ampliada tem três pavimentos. O terceiro andar é um terraço com vista para a Zona Sul de Recife. “Aqui a gente vai fazer churrasco e comemorar as festas de Natal e ano-novo”, planeja o casal. Dona Maria José se orgulha ao mostrar os móveis novos e os eletrodomésticos comprados no cartão de crédito. Ainda falta alguma coisa? “Trocar o sofá e comprar um rack para a televisão da sala”, sonha a dona de casa.

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