terça-feira, 17 de setembro de 2013

Recifense formada na Espanha volta a Pernambuco pelo 'Mais Médicos'

Médicos formados no exterior participam de oficinas em hotel na Zona Sul do Recife. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Os 48 médicos do programa 'Mais Médicos', do Governo Federal, formados no exterior e que foram convocados a atuarem em Pernambuco participam, a partir dessa segunda-feira (16), de uma série de oficinas, ministradas em um hotel na Zona Sul do Recife, que buscam traduzir o sistema de saúde e um pouco da cultura do estado. Entre os profissionais, três são brasileiros e 34 cubanos. Há também médicos vindos do Uruguai, Itália, Espanha, Portugal e Colômbia. Eles seguem para 25 cidades do estado a partir da próxima sexta-feira (20), quando terminam as oficinas.

Recifense, Flávia Ansay morava há 16 anos na Espanha, onde se formou em medicina e fez quatro anos de residência, em Madri, na área de medicina da família e comunitária, além de uma especialização em pediatria. “Eu atuava no sistema público de saúde lá, tinha minha estabilidade, mas pesou a questão de poder vir para perto da família e também de poder atuar em algo novo, de poder trazer a experiência que tenho para ajudar aqui”, explica Ansay.
Patrícia e Flávia são brasileiras, mas formadas na Espanha. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Patrícia e Flávia são brasileiras, mas formadas na Espanha
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
A médica pernambucana explica que os sistemas são parecidos nos dois países, com a diferença de que na Espanha existem menos diferenciações. “Você tem lá a atenção básica, que é mais ampla do que aqui. Não temos as UPAs [Unidades de Pronto Atendimento], por exemplo. Você só tem o hospital de maior complexidade. Aqui, talvez com melhor estrutura, você consiga resolver mais problemas e desafogar as emergências. Eu lá não tenho limitações do que posso pedir de exames, lógico que certas coisas tem especialistas, mas a gente resolve mais diretamente. Tem muitas coisas que podem ser tratadas na atenção básica”, pontua.

Apesar de ter nascido na capital pernambucana, a médica conta que não conhece mais tanto assim a cidade, haja vista as mudanças ocorridas nos últimos anos. “Sei que vou trabalhar aqui no Recife, mas ainda não sei onde. Meu marido está se organizando no trabalho para vir também. Não sabemos como vai ser daqui para frente, se o programa depois vai durar mais tempo. Ainda tenho muitas incógnitas, depende das coisas que vão acontecer”, afirma a médica. Brasileira de Unaí, no interior de Minas Gerais, a médica Patrícia Dutra, 33 anos, também é formada na Espanha e se especializou em Coimbra, em Portugal. Morando há 15 anos fora do país, ela viu o programa como uma oportunidade de voltar ao país, mesmo que por um tempo. Dutra e o marido vão atuar no município do Cabo de Santo Agostinho, no Litoral Sul de Pernambuco. “Minha família queria que eu fosse mais para perto deles, mas nós queríamos ir para onde realmente precisa de médico, que é o Norte e o Nordeste do país”, diz.
Com um filho de 13 anos do primeiro casamento, a internet e o telefone tem sido essenciais para aguentar a saudade. “As aulas lá começam em setembro, só vou trazê-lo quando estiver estabilizada aqui, saber direito onde vou morar, como vai ser. A recepção está sendo ótima, já encontrei com o secretário de Saúde do município, estou ansiosa para começar a trabalhar. A medicina é igual nos dois países, mas tem problemas sociais que são específicos daqui, o que realmente muda são as incidências das doenças”, acredita a brasileira.
A cubana Olga Julia Valdes, de 51 anos, passou pela formação na Bahia e chegou há pouco em Pernambuco. Tendo já trabalhado em Gâmbia, Namíbia e Venezuela, a médica foi selecionada para o município de Passira, no Agreste do estado. “Tem sido muito boa a receptividade, o curso foi muito enriquecedor, pudemos trocar experiências e conhecer mais sobre a situação. Existem diferenças, em Cuba temos apenas casos isolados de tuberculose, mas não temos febre amarela ou malária”, conta.
Cubana Olga Julia está ansiosa para chegar à Passira. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Cubana Olga Julia está ansiosa para chegar à Passira.
(Foto: Katherine Coutinho / G1)
Valdes ressalta ainda não estar preocupada com a chegada a um município desconhecido. “Pelo que vi, o brasileiro é muito parecido com o cubano. As pessoas são muito afetuosas, solidárias, comunicativas. Acho que não vou ter problemas, espero conhecer logo a cidade”, diz animada a médica, que deixou dois filhos no país natal, um de 24 e outro de 22, ambos estudantes de medicina. “É como uma tradição de família, meus irmãos também são médicos”.
Oficinas
Na manhã desta segunda, três graduandos de História da Universidade de Pernambuco (UPE) tiveram a missão de apresentar o estado, um pouco da história e também os aspectos culturais das diversas regiões pernambucanas. “A gente quer abrir o leque de possibilidades para eles, deixar com subsídios para poder interagir melhor com as pessoas, em especial no interior. É um pequeno panorama cultural, falando do que é o maracatu e outras manifestações”, explica o estudante Tiago Licarião. “É também desmistificar a ideia de que no interior só tem pobreza, a gente tem essa riqueza multicultural”, pontua o também estudante Reginaldo Simplício.
Material entregue aos médicos estrangeiros trás informações sobre sistema de saúde em Pernambuco. (Foto: Katherine Coutinho / G1)Material entregue aos médicos trás informações sobre
o sistema de saúde. (Foto: Katherine Coutinho / G1)
A semana de oficinas não estava prevista na programação original, mas não foi um problema, ressalta a secretária-executiva de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde da secretaria estadual de Saúde, Cinthia Alves. “A gente já tem todo um material construído de apresentações que fazemos em audiências públicas, reuniões de colegiados. Buscamos aqui explicar como a nossa rede funciona, quais são os serviços oferecidos, nossos programas de saúde”, detalha.
A programação da semana vai ser flexível, atenta às necessidades apontadas pelos próprios profissionais, ressalta Alves. Entre os temas estão o programa Sanar, que tem como foco as doenças consideradas negligenciadas, como hanseníase, tuberculose e doença de Chagas. “Vamos ter também um momento em que os profissionais intercambistas vão apresentar aos residentes nossos as experiências deles fora do país. Convidamos também alguns pesquisadores para ouvir, é a oportunidade que temos de aprender com eles”, aponta a secretária-executiva.
Os coordenadores das Gerências Regionais de Saúde do estado também devem ter um momento com os profissionais, onde cada coordenador vai passar para o médico que for para sua região as características básicas do local, questões de acessos e perfis epidemiológicos. A questão do funcionamento dos conselhos de saúde, os meios de comunicação entre as diferentes instâncias também fazem parte do programa. “Os médicos seguem a partir de sexta-feira (20) para as cidades, mas só começam a trabalhar quando sair o registro do Conselho Regional de Medicina. Se não tiver saído na próxima segunda (23), os médicos ficam fazendo diagnósticos da localidade, mas sem atender ao público”, ressalta Cinthia Alves.
G1

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